Kleiton saiu, mas Modesto ficou. Esse é o projeto do futebol feminino?

Muitos – não à toa, 99,99% homens – dos que defenderam Kleiton Lima estiveram ao lado de Robinho, Cuca e Pedrinho. Não há novidade na linha de raciocínio, que é a de rebaixar mulheres e ainda mais o futebol feminino. É perda de tempo debater com indivíduos assim.

Aos meramente desinformados, e há alguns, sugiro lerem as matérias recentes de futdasminass, geglobo e trivela a respeito. Na do futdasminass, há estatísticas interessantes: 73% das mulheres assediadas não denunciam por medo e 31% delas têm vergonha de se exporem. Além disso, dentre outras coisas, o Santos FC as orientou a não fazerem BO.

Se as vinte jogadoras das Sereias Da Vila fossem meramente mentirosas, não haveria motivo para retrocesso do clube e do ex-treinador. Já que bancaram a posição de confronto, por que desistiram? E, se fosse apenas coisa da “bolha” das redes sociais e de meia-dúzia de tuiteiros, por que ele saiu após somente uma partida, não é mesmo?

Ficam várias lições do episódio. Primeiramente, a postura lamentável da gestão passada, que contratou originalmente o ex-treinador e conduziu muito mal a situação, e da atual do Santos FC, que seguiu no mesmo tom e dobrou a aposta ao trazê-lo de volta. Mais ainda, ambas tentaram contemporizar e dissuadir as atletas de levarem o caso adiante. Até a nota oficial de desligamento do ex-treinador foi nessa linha. Depois, por deixar claro que não é um simples acaso, o comportamento esteve alinhado a outros episódios. E, por fim, ainda embute a tentativa de reabilitação de Modesto Roma, expulso do quadro associativo e que, todavia, oficiosamente dirige o futebol feminino. Os “chapas” da desvalorização feminina no clube e na sociedade, até porque uma coisa está diretamente associada à outra, tentarão defendê-lo também?

Essas pessoas provavelmente erguerão bandeiras de falso moralismo que se vê em diversas ocasiões, tanto no esporte quanto fora dele. E que se notou agora, do tipo “se protestaram na Vila, podemos fazer o mesmo contra a corrupção em tal arena/estádio”. Como se fosse aceitável relativizar o sofrimento das atletas usando o diversionismo para desviar a atenção com base em pretensos crimes de ordens de grandeza totalmente diferentes. E que, na verdade, misturam-se a uma posição claramente política e ideológica. Ou seja, a mais pura e deslavada hipocrisia.

O reerguimento esportivo e competitivo do clube não se dissocia do moral. Que, pelo visto, segue muito distante, a léguas e léguas…

By Henrique Farinha

E você o que pensa de tudo isso?

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