Rico menino pobre! (Homenagem ao Rei!)

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Prezados Santistas,

Temos a honra de compartilhar um texto do nosso amigo e comentarista, Nivaldo da Graça Saraiva, publicado no livro do Centenário do Santos, que conta a história de um Santista de coração, corpo e alma!

Feliz Aniversário, e Vida Longa ao Rei!

“SER SANTISTA É UM ORGULHO QUE NEM TODOS PODEM TER!”

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Minha ligação mais forte com o futebol começa com a mágica seleção de 70. Embora Santista desde sempre, com o “orgulho que nem todos podem ter” desde sempre, foi ali, aos 11 anos de idade, que o futebol – e o Santos – se fixaram para sempre na minha vida!

Com os monstros sagrados Carlos Alberto Torres e Clodoaldo, mais Sua Majestade Pelé de titulares, além do talentoso Joel Camargo e do genial Edu na reserva, descobri ali o que era ser o melhor do mundo, o que era ser Santista, enfim!!!

Nunca vou esquecer, do jogo contra o temido Uruguai na semifinal, e principalmente jamais vou esquecer da sensação, da emoção, da cabeça latejando ao gritar, gritar e gritar no gol de empate feito pelo Clodoaldo.

Depois desse jogo, achei e até hoje acho, que a tal “tragédia de 50” teve como vítimas, os uruguaios na verdade, já que depois daquela copa, o Brasil ganhou cinco títulos e eles nenhum!!! E lá se vão mais de 60 anos!!!

Em 1970, meus ídolos Santistas conquistaram o mundo, e conquistaram o mundo do menino pobre que eu era!!!

Fizeram-me sonhador e forjaram-me vencedor, apesar de todas as dificuldades financeiras.

Mas, o melhor ainda estava por vir…

Quem mora de aluguel, muda muito de casa e eu, que morava no centro da cidade, longe da Vila mais famosa, mudei-me de novo em 1973, voltando para o querido Marapé da minha mais tenra infância, mais precisamente na Rua Saturnino de Brito, a umas 10 quadras da Vila Belmiro!

Deus meu, encontrei o Paraíso!!!

A pé, sem custo algum, era possível chegar no templo do futebol, era possível olhar para ele, era possível imaginar meus ídolos – aqueles da Copa de 70 – lá dentro, era possível sonhar vê-los!

Mas, mais, muito mais do que isso, o que eu sequer sonhava, também era possível, e eu ainda não sabia…

Descobri com alguns dos novos amigos da rua: Davi, Luiz, Zé e Orelha, que existia um “negócio” chamado “rebarba”, que era um costume do Santos – e que eu não sei se ainda existe – de abrirem-se os portões da Vila, lá pelos 20 minutos do segundo tempo em dias de jogos.

E lá fui eu, incontáveis vezes, me juntar ao exército de outros meninos, para esperar a abertura dos “portões do Paraíso”!!!

E lá, incrédulo, absolutamente encantado, eu vi desfilar os Deuses do Futebol: Pelé, Carlos Alberto, Clodoaldo e aquele – que Pelé à parte – era o nosso maior ídolo, o genial Edu, que era a alegria da garotada!

Bastava abrirem os portões, e uma massa barulhenta de meninos corria pela Vila, se espalhando pra todo canto, mas o nosso canto era aquele onde estivesse o Edu.

Nós e mais um monte de meninos, grudávamos no alambrado para vibrar, torcer e nos divertir com o Edu!

Gritávamos com toda a nossa força: HUMILHA EDU, HUMILHA!!! E ele ouvia, ria e…HUMILHAVA!!!

Descobri que era rico!!! Um rico menino pobre!!! Rico de felicidade!!!

E que ficaria ainda mais rico! Isso parecia impossível, mas não era, por incrível que pareça…

Descobrimos que era possível entrar nos treinos, que existia uma outra forma de ver nossos ídolos.

Podíamos vê-los se exercitando, dando chutes em gol ou simplesmente correndo. Podíamos até ouvi-los falar!

Não podia ser melhor, né? – Pois não é que podia!

Um dia o preparador físico mandou-os subir e descer os degraus da arquibancada, e nós ali PERTINHO!!!

Pensei: isto é o máximo!!! – Mas não, não era…

De tanto irmos aos treinos – e nos comportarmos – éramos meninos educados e respeitosos – penso que ficamos bem vistos, e AÍ sim, o MÁXIMO aconteceu…

Num outro dia, percebemos que estava aberto, um dos portões que dava acesso ao campo, e meio sem jeito e sem coragem nos aproximamos dele.

Ficamos ali, desejosos mas temerosos, a um passo do Céu, mas com medo de entrar e perder todo o respeito já conquistado, de perder o privilégio de estar ali.

Mas, aí alguém nos viu – um roupeiro, um massagista, nunca vou saber – e disse: – “pode entrar, molecada. Não incomodem os jogadores, mas podem vir”…

Atônitos, absurdados e eternamente gratos a Deus e ao anônimo funcionário, entramos…

Os Deuses do Futebol estavam treinando cruzamentos, jogadas ensaiadas e chutes a gol, naquele gol do placar.

Sentamos na lateral do gramado e ficamos assistindo. Parecia sonho, mas era real, inesquecivelmente real!!!

Pelé – meu Deus…Pelé?!?!?! Carlos Alberto, Clodoaldo, Vicente, Nenê, Mazinho, Zé Carlos, Marinho Peres, Léo, Brecha e Edu…Edu?!?!?! Todos ali pertinho…INACREDITÁVEL!!!

Aos poucos tomamos coragem e entramos no campo. Sentamo-nos ali no círculo central, enquanto os “monstros” treinavam chutes ao gol.

Davam pancadas inacreditáveis, para defesas ainda mais inacreditáveis do goleiraço que atendia pelo nome de Cejas!!!

O homem estava demais, não passava nada!

De vez em quando, um jogador vinha buscar bolas próximas a nós, e soltava uma gentileza tipo: – “e aí, garotada, estão curtindo”?

Incrível, estávamos no Céu e os Anjos ainda falavam conosco. Foi demais!!! – Não, ainda não, porque Deus fez “Deus” falar conosco!!!

Como Cejas estava impossível, um a um os jogadores foram desistindo de fazer o gol e foram indo embora.

Pelé deu o último chute, gritou um “vai se catar, Gringo” e falou conosco – CONOSCO!!!: “esse gringo está impossível hoje, tchau molecada”…

Nem lembro se respondi, muito menos lembro se alguém respondeu!!! Era emoção demais!!! Só lembrei de pedir autógrafo, já em casa, umas quatro horas depois…rs…

Enquanto isso, Cejas tripudiava em portunhol: – “hoje não passa nada aqui, vale aposta”…

Todos, menos Léo e Brecha, desistiram e foram pro vestiário.

E nós ali, próximos a estes dois últimos, os ouvimos combinar a sacanagem contra o grande goleiro.

Léo e Brecha batiam muito forte na bola e combinaram de chutar ao mesmo tempo, um em cada canto do gol e assim fizeram.

Cejas sem saber pra que lado ir, ficou quase estático no meio do gol e berrou p… da vida…rs…: – “assim não vale”…

Fim de treino e de um dia que jamais iria se repetir!

E aí eu pergunto: precisa???

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