O superávit do SFC muito além das premiações, entenda!

Entenda o superávit do SFC

Uma das primeiras lições que aprendi ainda nos anos 1980, quando comecei a lidar com balanços de empresas, foi dada pelo meu então chefe no extinto Banespa, onde eu era funcionário concursado. Ele me disse: “A maior tentação ao se analisar um balanço é se apegar às respostas fáceis. Mas as melhores estão escondidas e é preciso pôr a mão na massa para encontrá-las.”

É exatamente o caso do balanço de 2021 do Santos. Ao constatarem que o superávit anual e o recebimento de premiações da Libertadores de 2020 no ano serem praticamente iguais, muitos declararam: “Pronto, foi por isso!”. Era a resposta fácil, porém incorreta. Sem entrar no mérito do porquê de acreditarem nela, achei melhor investigar mais. E se expurgasse essa receita do balanço e a retornasse a 2020, por exemplo, o que ocorreria?

Foi exatamente esse o exercício a que me propus. E verifiquei que não, o superávit não se devia a isso. Os motivos eram outros e eu precisava fazer uma análise gerencial um pouco mais ampla para demonstrar o que levou ao resultado, sem os “complicômetros” e rigores tradicionais da análise contábil e financeira, para que o maior número possível de pessoas compreenda a situação do clube. E que, apesar de todo o esforço, ainda há muito por fazer. Seguem os principais, alguns deles já antecipados em meu perfil no Twitter (@henriquefarinha).

  • Aumento das receitas recorrentes em 43,8%

Deduzidas as premiações, que considerei à parte, como explico mais adiante, e como as negociações de jogadores são corretamente classificadas em balanço como receitas extraordinárias, as receitas recorrentes, ou seja, aquelas que “pingam” no caixa com periodicidade definida, subiram de R$ 177,3M para R$ 254,9M, crescimento de R$ 77,6M ou 43,8%. As receitas obtidas pelo Marketing estão aí inclusas. Há um quadro mais adiante que consolida essas informações.

  • Aumento de 259,6% na receita líquida de negociações de jogadores

Apesar dos valores das vendas terem subido 27,8% em 2021 – R$ 107,1M contra R$ 83,8M –, houve essa elevação incrível do saldo líquido, que passou de R$ 20,1M para R$ 72,4M. Ou seja, foram R$ 52,3M a mais entrando no caixa do clube. E por quê? Porque as despesas de vendas, que incluem comissões, foram de R$ 63,7M em 2020 e de apenas R$ 34,8M em 2021. A redução de despesas foi de 45,4%, ou R$ 28,9M.
Analisando-se friamente, não faz qualquer sentido receber 27,8% a mais, porém gastar 45,4% a menos. Seria natural o Conselho Fiscal mencionar o assunto. Mas o que se viu foi apenas um comentário protocolar na página 17 de seu relatório, no tocante a comissões e intermediações: “Nos exercícios anteriores, o Conselho Fiscal elaborou recomendações sobre o assunto, com o intuito de deixar estabelecida de forma clara e transparente as regras para elaboração desta prática. Ficou definido que as exceções que ocorressem deveriam ser previamente justificadas. As recomendações foram cumpridas.” Não há, todavia, nada sobre a queda abrupta de despesas.

Segue abaixo o quadro demonstrativo, ficando a sugestão ao Conselho Deliberativo que estude mais profundamente a questão.

  • Premiações de 2020 consideradas conforme critério de competência

Originariamente, as premiações foram recebidas sob regime de caixa, ou seja, efetivamente da seguinte forma:

(*) Da premiação do Brasileiro 2021, R$ 18.100.000,00 foram faturados em 2021, mas recebidos em 2022.

(**) A premiação total da Libertadores 2020 foi de R$ 61.000.000,00, mas faturados e recebidos R$ 17.914.029,00 em 2020. Portanto, R$ 43.085.971,00 foram faturados e recebido em 2021.

  •  Quadro Consolidado

Como disse na introdução, para analisar os números mais adiante, expurguei as receitas de premiações de 2020 do balanço de 2021 e as retornei a 2020, assim como retirei toda e qualquer premiação das receitas recorrentes para apurá-las com maior precisão e assim excluir qualquer benefício na transferência de um ano para o outro. Diante disso, as premiações de 2020 voltaram a ser de R$ 85,5M e as de 2021 foram reduzidas para R$ 36,5M.

 Assim sendo, sob os critérios estabelecidos e expurgando os R$ 43,1M de premiações de 2020 recebidos efetivamente em 2021, segue abaixo o quadro ajustado.  

  1. As receitas recorrentes, como explicado no item 1 deste artigo, aumentam 43,8%, ou R$ 77,6M.
  2. As premiações, por decorrência, caem 57,4, ou R$ 49M.
  3. As receitas de negociações deduzidas as despesas, conforme explico no item 2 do artigo, aumentam 259,6%, ou R$ 72,3M.
  4. Desse modo, as receitas de 2020 “aumentam” em relação às do respectivo balanço para R$ 282,9M e as de 2021 são “reduzidas” para R$ 363,7M, mesmo assim crescendo 28,6%, ou R$ 80,8M.

Por outro lado, apesar das despesas operacionais crescerem de R$ 79,5M em 2020 para R$ 85,6M em 2021 (R$ 6,1M ou 7,7%), os custos do Departamento de Esportes despencaram de R$ 312,3M para R$ 254,9M (R$ 57,4M ou -18,4%).  Somando os custos do Departamento de Esportes às despesas operacionais, tivemos uma redução de R$ 391,8M para R$ 340,5M (R$ 51,3M ou -13,1%).

Ou seja, se somarmos o aumento de R$ 80,8M nas receitas à redução de R$ 51,3M em custos do Departamento de Esportes e despesas operacionais, chega-se, grosso modo, a uma geração adicional de caixa, considerada apenas a operação em si do clube, de R$ 132,1M em 2021 em relação a 2020. Foi um tremendo ajuste tanto do lado das receitas quanto das despesas.

Diante disso, e sem entrar no mérito de eventuais despesas “carregadas” de 2020 para 2021, que deveriam ser igualmente expurgadas, mas não foram por faltar acesso aos detalhes do balanço, como se pode afirmar terem sido as premiações de 2020 recebidas em 2021 as geradoras do superávit? A resposta é, evidentemente, que não se pode.

  • Sobre a dívida

Para efeito de cálculo da dívida, foram expurgadas as receitas diferidas do passivo circulante e do não-circulante.
Para apuração do peso da dívida, foram retiradas as receitas de negociações de jogadores. As premiações foram consideradas em 2020 e 2021 exatamente como aquelas do Quadro Consolidado. Assim sendo, estão computadas apenas as receitas operacionais, somando-se as recorrentes às premiações.

A dívida de curto prazo representa 0,92, ou 92%, das receitas operacionais, uma redução expressiva de 22,6% na relação sobre 2020. A dívida de longo prazo é 0,95, ou 95%, das receitas operacionais, redução de 4,3% sobre 2020. E a dívida total é 1,87 vezes as receitas operacionais, ou 187%, queda de 14,3% sobre 2020, quando era de 2,18 vezes.

Tamanho peso do endividamento, especialmente o de curto prazo, sobre as receitas operacionais explica a necessidade de recorrer ao funding criado no Banco Safra, além de empreender renegociações com os credores. Apesar da significativa redução de 14,6% do endividamento de curto prazo e de 5,0% no total, com elevação de 6,1% no endividamento de longo prazo, indicando mudança do perfil da dívida, vê-se que a atual gestão do clube ainda continua com uma tremenda pressão cotidiana. Para se acelerar o processo e reduzir o endividamento de curto prazo para cerca de 0,30, que é o teto para uma situação financeira e de caixa saudável, o clube terá de negociar atletas para geração de um montante de cerca de R$ 160M líquidos na próxima janela. Essa é a dura realidade, mas, dessa vez, mantidas as atuais diretrizes implantadas pela diretoria, o clube se veria em uma situação bem mais confortável, vislumbrando um aumento considerável de sua capacidade de investimento para 2023 ou, eventualmente, ainda em 2022 para uma ou outra contratação pontual.

Espero ter esclarecido os principais pontos do balanço do Santos a quem não é tão afeito ao assunto, recorrendo a alguns artifícios inusuais que, imagino, tornam o entendimento mais fácil, apesar da carência de detalhes que permitiriam maior rigor de apuração.

Colaborou: Henrique Farinha (Twitter: @henriquefarinha)

E você, o que pensa disso tudo?


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