E a Libertadores enfim chegou ao seu final, não importa quem foi o campeão (River Plate), o que fica marcado na memória do torcedor são as mazelas que aconteceram durante a competição em 2018, desde o seu início, manchando ainda mais o futebol sulamericano.
O nome do artigo poderia muito bem retratar a penúria do continente latino americano após a emancipação da colônia espanhola. Poderíamos aqui falar dos fracassos administrativos da Argentina, da guerra do narcotráfico instaurada na Colômbia, da corrupção brasileira ou do massacre da ditadura chilena. O título poderia ser bem alusivo as políticas populistas praticadas nestas terras desde a emancipação.
Contudo, sabemos que o futebol, como fenômeno social, reproduz às vezes, “ipsis literis”, aspectos sociológicos nem sempre tão evidentes. Nada de novo se lembrarmos, ao longo do texto, do descaso com o segundo torneio mais importante do futebol de clubes. Segundo porque, infelizmente, ainda vivemos num colonialismo sem metrópole. Explico mais adiante.
Há no mínimo uma década fala-se no óbvio dos óbvios: a unificação da Copa Libertadores da América com a Concacaf, unindo o continente em algo próximo ao praticado na Europa. Nada de colonialismo aqui, quando pensamos que espelhar os bons exemplos, é na verdade, desenvolvimento.
Os motivos para isso envolvem o crescimento do futebol estadunidense e a recente saída dos clubes mexicanos da disputa, que se deu pelo simples fato de o torneio não representar para estes acesso ao mundial interclubes.
A nova roupagem envolveria evidentemente uma maior seriedade e um maior custo em termos de viagens e folha salarial, tendo-se em vista o abismo financeiro entre os clubes da América do Norte. A princípio, tal diferença poderia influir nos vencedores.
Contudo, os retornos seriam espetaculares em ganho técnico, rendas e visibilidade mundial. A idéia jamais foi posta em prática.
Este ano, a Copa Libertadores prometeu inovações como o VAR e o sistema Comet, que em tese facilitaria a inscrições de jogadores no torneio. Eu disse em tese. Ao classificar-se para a fase mata-mata, o Santos de Pelé contratou Carlos Sanchez, ex River Plate. O jogador foi escalado, pois no sistema Comet, seu nome constava sem qualquer tipo de suspensão. Para a surpresa geral, após o 0x0 entre Santos e Indepiendente, a própria entidade denunciou o Santos por escalação irregular, já que havia uma partida de suspensão em seus tempos de River Plate. No processo, Sanchez jogou ainda no futebol mexicano, onde por não disputar torneios Conmebol, não havia irregularidade. O Santos foi penalizado por dar confiança ao sistema da Conmebol. É como se um réu fosse penalizado por seguir as ordens do Juiz.
Algo fora da esfera do raciocínio.
Infelizmente, por este lado da América, quase nunca o bom senso tem vez. A decisão em tribunal da punição sairia horas antes do jogo. O time brasileiro até este momento não sabia se poderia jogar por vitória simples ou com a punição, que transformava o 0x0 anterior em 3×0 pró Independiente. Nenhum clube brasileiro se manifestou. O Santos foi eliminado. Caso similar ocorreu com a Chapecoense no começo do ano ainda na Pré-Libertadores. Novamente, silêncio.
Após o incidente, vazaram escalações irregulares de jogadores dos dois mais tradicionais clubes argentinos: River Plate e Boca Jrs. A própria Conmebol, em um claro subjetivismo, sequer abriu denúncia contra os mesmos, dados que fora esgotado o prazo de 48 horas após o jogo. Havia precedente legal, o mesmo precedente que no Brasil solta homicidas e outros criminosos.
Vale ressaltar que antes de o Independiente acionar a Confederação, a própria entidade abriu denúncia contra o Santos. Nenhum clube brasileiro manifestou repúdio e, algumas vozes solitárias da mídia anunciaram que o mesmo se repetiria, como vem acontecendo há décadas em favorecimento ao futebol argentino.
O Cruzeiro enfrentou, nas quartas de final o Boca Jrs. Foi a estreia derradeira do VAR. Em lance extremamente duvidoso, Dedé, o zagueiro celeste chocou-se com o goleiro argentino em lance violento, mas sem intenção. Após a conferencia de vídeo, o arbitro expulsa o melhor zagueiro brasileiro em atividade. Após o jogo, a corte do tribunal decide que a expulsão foi injusta. Como consolo, Dedé não foi suspenso do jogo seguinte contra o mesmo Boca Jrs. Novamente, sem qualquer reação dos clubes brasileiros, exceto o prejudicado, o Cruzeiro seria desclassificado pela falha capital. A Conmebol novamente admitia seu erro, mas não reparava o clube lesado.
Poderíamos citar aqui dezenas de jogos. Nessa altura, a própria mídia brasileira sinalizava uma força tarefa para uma final argentina. Foi exatamente o que aconteceu com lances duvidosos de arbitragem e fatores extra campos para os quais, a Conmebol sempre fez vista grossa quando se tratava de times argentinos. O Grêmio caia.
Em ritmo de festa, a final foi marcada para a argentina. O presidente do país falou em uma tragédia anunciada. Foi o que aconteceu. A torcida do River Plate recebeu o ônibus do rival a pedradas, levando jogadores ao hospital. A final foi adiada duas vezes enquanto a torcida esperava em campo. Decidiu-se por fim o adiamento.
Lembrando aqui que em 2013, os gambás foram justamente punidos em Oruro, após o assassinato de um torcedor boliviano por um torcedor rival. A punição “exemplar” da Conmebol foi obrigá-los a jogar com portões fechados os jogos restantes sob seu mando naquela edição, o que foi revogado depois, transformado em apenas um jogo, pois quando foram eliminados pelo Boca, numa arbitragem nitidamente encomendada de Carlos Amarilla, havia torcida presente. O leitor ficará surpreso ao saber que um menor de idade foi indiciado no Brasil e não sofreu qualquer punição. Ganhou inclusive bolsa de estudos.
O River Plate até o momento não foi eliminado da competição. Eis que surge a cereja do bolo. O circo da Conmebol resolve colocar os times argentinos como palhaços ao sondar a ex-metrópole espanhola para uma final em Madrid.
A mídia brasileira, que deveria a esta altura se recusar em transmitir e vender o espetáculo do século. Silêncio na CBF. Resta agora substituir o nome do torneio de Libertadores para “Colonos da América”.
E segue a marcha, enquanto os clubes brasileiros lutam ponto a ponto para serem novamente os palhaços deste circo travestido de competição futebolística.
* Colaborou: Levi Soares
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