Que tipo de literatura vocês querem para o Livro do Santos?

Vivemos em tempos difíceis. O torcedor de arquibancada ou aquele que vive a léguas de distância de seu time segue dançando um tango interminável. Aquele mesmo tango que Manuel Bandeira dançou com seu médico ao descobrir que a palavra 33 é capaz de infiltrar um pulmão. E lá estamos nós, dentro do estádio ou na frente da TV bailando esse mesmo tango, Indo dormir com 500 kilos de balburdias e estapafurdices no estomago, ruminando o ego dos políticos e procurando esperança em um mar de fezes. O mesmo mar malcuidado que desagua sobre a cidade de santos e que acordou triste, de ressaca e cabeça cheia pela noite anterior.

O torcedor é um leitor de Kafka, que espera ansiosamente por cada página, e tem fé em Kafka pois sabe que ele vai lhe surpreender na próxima palavra dita. O leitor sabe que os grandes escritores têm responsabilidade por cada folha escrita, nada é em vão, nenhuma arvore de uma grande história é em vão, um livro bem escrito é uma arvore que nunca morrerá. E que livro os escritores do Santos Futebol Clube estão escrevendo? Qual a responsabilidade por cada página. Eu posso assegurar que pelo que ando lendo e vendo nesses últimos anos, estão transformando a Literatura Santos futebol Clube em um livro de autoajuda chulo e grotesco.

E vejam, eu não estou aqui falando de nomes, poderia sem medo algum pontuar algumas pessoas que fazem e fizeram muito mal ao Santos nos últimos anos, mas independente de estatuto ou constituição, dele ou daquele ali, minha melancolia por todo esse pandemônio se finca nas entranhas do poder, do ego, das banalidades que destroem a esperanças do torcedor, daquele que só quer vibrar com seu time, esfolar a garganta com um grito de gol, queimar o fio da TV de tanta vela que ele colocou em volta, daquele que avisa o patrão que “tá doente” só pra poder ir acompanhar o time na Libertadores, porque no fim, quando falamos de Santos é disso que estamos falando. Não de mandos e desmandos e tumultos pra ver quem fica ou não com o poder.

Eu sinto que estou dentro de um drama infinito, dentro de uma letra do Mano Brown triste, cheio de incertezas e de injustiças e que todo esse escarcéu (que de céu não tem nada), digo então, que todo esse “escarinferno” está sendo feito por pessoas que não amam o clube. Eles amam seus uísques importados, eles amam o advento do poder, a sensação de uma gargalhada maquiavélica, amam a luta pelo nome na história e enquanto isso vão definhando o clube, vão humanizando a força de um Deus que nunca morre, vão matando o Santos.

Eu não tenho esperanças, cansei de ter esperanças, mas minhas palavras têm! E por isso elas se soltam de meus dedos e vem para essa página pedir com veemência para que independente do que o torcedor decida nas urnas, que as pessoas incumbidas de organizar o Santos Futebol clube o trate com o carinho que ele mereça. Não se esqueçam que o Santos tem a melhor literatura do mundo, ninguém tem mais histórias do que este clube, e por favor, respeitem isso senhores! Se vocês não são “bom escritores”, vão fazer outra coisa, ou não façam nada, pouco me importa, mas não minimize nossa história, não tire do torcedor a esperança, não tire o Santos do lugar onde ele deve estar e tenham a humildade de dar seu lugar para pessoas que dariam a vida pelo clube, porque vocês não dão, a gente sabe disso.

Santos sempre Santos

Renan Chiaparini

 

Renan Chiaparini é Santista, escritor e de vez em quando dá seus pitacos no Blog Soul Santista.