Surgiram duas linhas de interpretação diferentes da minha sobre o que Neymar disse ontem na Vila.
Uma, completamente estapafúrdia, de conspiração da mídia, que “não quer a renovação”. E ainda perguntam se seria preferível o rebaixamento. Como se não houvesse clubes com muito maior competência esportiva sem ele e tudo dependesse dele sem se cobrar a gestão. É apenas mais uma tentativa tosca e infantil de quem torce mais por ele do que pelo clube de isentá-lo de responsabilidade pelo que fala e como age. E, claro, terceirizando a culpa para esse ente etéreo e maléfico, a mídia… Coisa típica de fanatizados. Qual a chance de se dialogar construtivamente com um fanático sobre o erro daquele que idolatra? Nenhuma.

A outra é a de que ele errou por não saber se comunicar. Mas não é o que tudo indica. A fala de ontem se conecta à do pai ao L’Équipe anteontem, na qual afirma que apareceram propostas e irá a Miami para “avaliá-las”. E Neymar falou dentro da casa do Santos, clube que o recebeu de braços abertos e pagou o que ele exigiu sem obter o retorno esperado. E então menciona que quase foi para o Fluminense ressalte-se que sob autorização de Marcelo Teixeira – e preferiu “treinar mais”. Para devolver o carinho e o devido retorno esportivo e financeiro? Não. O objetivo é o planejamento individual da carreira, voltando melhor pela ambição de disputar a Copa de acordo com a melhor proposta. O Santos não foi sequer mencionado.

Assim sendo, analisando-se o que pai e filho disseram em dias consecutivos, chego à conclusão de que eles continuam os mesmos de sempre. Lidam com tudo como negócio. Para eles, amor é coisa de iludidos. E a relação com o futebol e o Santos é de negócio. Ver o assunto de forma similar é o que falta até agora para o clube e a torcida. Neymar pode ser útil esportivamente? Sim, desde que se recupere, algo absolutamente incerto. E financeiramente? Sim, desde que pai e filho entendam o momento para se enquadrarem à incerteza e à realidade do clube.

Mais do que a renovação, seria hora da gestão e da torcida devolverem aos dois a análise fria e desapaixonada dos fatos. Farão isso? É claro que não. Há gente demais cega pelo fanatismo. Enquanto isso, o bônus e principalmente o ônus recairão sobre o clube. Ninguém se assumirá responsável por nada, a não ser que o resultado seja plenamente satisfatório. De resto, veremos a prática usual de sair da frente e submergir se der errado.

E você o que pensa de tudo isso?

Por Henrique Farinha

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